Baseado na situação de
fragilidade que se encontram os indígenas da região, o vereador Aguilera de
Souza, afirma: “Dourados é uma bomba relógio que está prestes a explodir”.
Durante entrevista ao Dourados Agora nesta quinta-feira, o parlamentar que vive
na reserva indígena destacou que a área, além de ser carente de uma boa
estrutura, também é pequena para abrigar todos os seus moradores.
“A reserva indígena de
Dourados tem cerca de 3.500 hectares e uma população de aproximadamente 15 mil
moradores. O espaço está ficando pequeno, principalmente por causa do índice de
natalidade, já que por ano, pelo menos 500 nascimentos são registrados, e desse
modo, dentro de pouco tempo, viver naquele local ficará insustentável se não
houver mudanças urgentes”, comentou.
Ele explica que a
ampliação das aldeias, bem como o fornecimento de recursos para que a
comunidade possa se tornar independente para produzir e tirar o próprio
sustento, por exemplo, são soluções viáveis, mas que esbarram na morosidade das
autoridades políticas que levam anos para tomar alguma atitude. “Não adianta a
realização de vários estudos, se nenhum deles é posto em prática”, destacou.
“A reserva carece de
creches, postos de saúde, escolas e inúmeros outros órgãos e entidades que
poderiam atuar como agentes transformadores. Para se ter uma ideia, têm
indígenas que pagam aluguel para morar na aldeia. Isso mostra a que pontos
chegamos, sem mencionarmos a questão da violência, que tem sido um dos
principais problemas enfrentados por nosso povo. Se nada for feito, em alguns
anos teremos de fato, uma guerra civil entre indígenas e o homem branco,
principalmente produtores rurais”, disse.
Coordenadoria de
Assuntos Indígenas
Recentemente foi
implantado o projeto de criação de uma Coordenadoria de Assuntos Indígenas
ligada ao poder executivo, de autoria de Aguilera, que também é presidente da
Associação de Vereadores Indígenas de Mato Grosso do Sul. A coordenadoria foi
instalada dentro da reserva indígena e tem ajudado a comunidade a sanar alguns
problemas emergenciais, como por exemplo, as condições ruins das estradas.
“A coordenadoria atua
em vários âmbitos e busca entender quais são as demandas das comunidades, e com
base nisso, desenvolver projetos e encaminhá-los às autoridades, para que algo
seja feito. Tem sido uma esperança para o povo, pois logo de início, já
conseguimos colocar alguns planos em prática, como o cascalhamento das
principais vias que cortam as aldeias. Sabemos que há muito para ser feito”,
comentou.
Invasões
Sobre as invasões de
propriedades que têm sido registradas recentemente em diversas áreas do Estado,
como em Sidrolândia, Iguatemi, Amambai, Caarapó e Dourados, Aguilera
enfatiza:
“não é invasão, é
reocupação, já que estudos históricos apontam que essas áreas pertenceram aos
ancestrais das atuais gerações. Os índios têm conhecimento suficiente para
saber quais são e quais não são suas terras; eles não ocupam locais que não os
‘pertencem’ por direito. Se a Justiça brasileira não fosse tão lenta, todos
esses problemas já estaria solucionados”.
Ele explica que a
atitude de ocupar as terras não é o meio mais eficaz, mas lembra que por
enquanto, tem sido o único a chamar a atenção da sociedade, “Se apropriar de
uma fazenda não resolve, mas entendo que meu povo está desesperado em busca da
terra prometida”.
Nessa trajetória vários
pais viram seus filhos morrerem de fome, sem nenhuma dignidade e “Sempre que
converso com outros indígenas eu ressalto que nós não devemos ser inimigos dos
produtores, mas sim, junto com eles, cobrar do Governo medidas que possam
beneficiar os dois lados; nessa luta por terras não pode haver apenas um
vencedor, todos têm que receber o que é de direito”, concluiu.
Dourados Agora -
Lincoln Weiss
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