As principais
lideranças indígenas dos povos Munduruku e Mura (da terra indígena Kwatá
Laranjal) e Hexkariano (do baixo Amazonas) vieram à Manaus esta semana para
pedir a desocupação do prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai), por parte
de indígenas residentes na capital amazonense. Reunidos desde a última
terça-feira (dia 19), o grupo de nove caciques alega que a ocupação vai
completar três meses e começa a refletir de forma negativa nas comunidades que
hoje são atendidas pelos serviços da Funai, nos municípios de Borba, Nova
Olinda e Nhamundá.
O movimento também é
contrário à saída do atual coordenador da Funai/AM, Eduardo Desiderio e, após
encaminhar uma carta com 22 assinaturas à presidência do órgão, em Brasília, a
comitiva reuniu-se nesta quinta-feira (dia 21) com integrantes do Gabinete de
Gestão Integrada, do Governo do Amazonas, para expor os motivos do pedido de
desocupação.
Na carta, as lideranças
alegam que a ocupação “envergonha o povo indígena e sua imagem”, além de ser
feita por pessoas que “não representam indígenas de aldeias terras indígenas da
jurisdição dessa regional da Funai”.
A carta foi produzida
durante reunião na Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), que
recebeu as lideranças e ouviu as reivindicações, por meio do Departamento de
Apoio aos Povos Indígenas (Dapi), cujo serviço é executado de forma integrada
entre o Governo do Amazonas, a Defensoria Pública da União (DPU), a Defensoria
Pública do Estado do Amazonas (DPE) e a Procuradoria Federal. A conversa teve a
presença do procurador federal Caio Leonardo.
O grupo chegou a
conversar, via skype, com a assessora do Gabinete da presidência da Funai,
Lúcia Alberto, de quem receberam a garantia de que a demanda chegaria às mãos
da presidenta interina, Maria Augusta Boulitreau Assirati.
Situação crítica
De acordo com o tuchaua
geral da comunidade Cachoeira Porteira, em Nhamundá ( a 375 quilômetros de
Manaus), Manoel Kaywana, 73, a situação começou a ficar crítica. Os prejuízos
vão desde a produção de castanha à interrupção de serviços como a expedição de
documentos.
“Nossos projetos com
farinha e castanha estão parados há mais de dois meses, por causa dessa atitude
de pessoas que não são indígenas da base, das comunidades, que precisam bem
mais de assistência”, justificou o líder indígena, que representa toda a
população indígena do baixo rio Amazonas.
Além do tuchaua,
caciques como Manoel Cardoso Munduruku, 63, de Kwatá Laranjal, em Borba (a 150
quilômetros de Manaus), informaram que só voltarão para a aldeia, quando a
desocupação for finalmente concretizada.
“Não compactuamos com
invasão de prédio público, vandalismo e, essa ocupação, que é feita de forma
agressiva, não pode continuar”, afirmou o cacique. “Viemos aqui para solicitar
providências, resolver o problema e levar uma resposta positiva para nossas
aldeias”, finalizou.
Planejamento
Conforme o conselheiro
de saúde de Kwatá Laranjal, Levi Munduruku, simultaneamente à execução dos
projetos, o período é de planejamento, por isso a necessidade da desocupação na
Funai. O indígena chegou a sugerir a mudança de sede para Nova Olinda, no intuito
de evitar novas ocupações.
Além de Seind e Funai,
a discussão em torno da ação de retirada dos indígenas do prédio da Funai teve
a participação de representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab), da União dos Povos Indígenas Munduruku e
Sateré-Mawé (Upims) e Conselho dos Professores Indígenas da Amazônia (Copiam).
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