A área da
TI. Bacurizinho resultante da demarcação de 1979 tem como limites uma linha
seca ao "N" e outra ao "S", a margem esquerda do riacho
Enjeitado ao Leste ("L") e a margem direita do rio Mearim ao Oeste
("O"), formando um retângulo em que os cursos d’água, hoje, estejam
nas laterais de menor extensão desse retângulo (a "L" e a
"O").
A
localização das aldeias é regida tanto pela proximidade com corpos d’água (rio,
riacho e lagoa) quanto pelo apego à ancestralidade: os Tenetehara-Guajajara
sentem-se bem em lugares que foram habitados por seus antepassados ou que estes
estejam ali enterrados. Boa parte das aldeias centrais da terra indígena teve
seus ciclos: depois de crescerem bastante, foram de populacionadas pela
não-sustentabilidade do ambiente, principalmente a falta d’água, e depois de
algum tempo gerações mais novas de famílias antigas do lugar voltaram para lá
para "reerguer a aldeia", como dizem.
Todas as
11 Terras Indígenas habitadas pelos Guajajára estão situadas no centro do
Maranhão, nas regiões dos rios Pindaré, Grajaú, Mearim e Zutiua. São cobertas
pelas florestas altas da Amazônia e por matas de cerradão, mais baixas, sendo
estas matas de transição entre as florestas amazônicas e os cerrados. Os
Guajajára nunca habitaram os cerrados vizinhos, região dos povos jê. Sua região
mais antiga, historicamente conhecida, foi o médio rio Pindaré.
A partir
do final do século XVIII e início do seguinte, expandiram seu território para
as regiões dos rios Grajaú e Mearim, onde se estabeleceram pouco tempo antes da
chegada dos brancos, disputando com vários grupos timbira as áreas de caça. Por
volta de 1850, uma parte dos Tenetehára migrou para o norte e mais tarde passou
a ser chamada de Tembé pelos regionais.
As Terras
Indígenas atuais, todas homologadas e registradas, são as seguintes:
Terra
indígena
|
Município(s)
|
Extensão
(ha)
|
Araribóia
|
Amarante,
Grajaú, Santa Luzia
|
413.288
|
Bacurizinho
|
Grajaú
|
82.432
|
Cana-Brava
|
Barra
do Corda, Grajaú
|
137.329
|
Caru
|
Bom
Jardim
|
172.667
|
Governador
|
Amarante
|
41.644
|
Krikatí
|
Amarante,
Montes Altos, Sítio Novo
|
146.000
|
Lagoa
Comprida
|
Barra
do Corda
|
13.198
|
Morro
Branco
|
Grajaú
|
49
|
Rio
Pindaré
|
Bom
Jardim, Monção
|
15.002
|
Rodeador
|
Barra
do Corda
|
2.319
|
Urucu-Juruá
|
Grajaú
|
12.697
|
As Terras
Indígenas Araribóia, Bacurizinho e Cana-Brava abrigam cerca de 85% da população
guajajára. Em várias terras, eles não são os únicos habitantes indígenas: há
grupos dos Guajá em Araribóia e Caru, dos Tabajara em Governador e Rio Pindaré
e dos Guarani, Krenyê e Kokuiregatejê em Rio Pindaré. Em duas Terras Indígenas
os Guajajara são minoria: em Governador, dos Gavião-Pukobyê, onde representam
cerca de 36% dos habitantes, e em Krikatí, onde há uma comunidade cujos
moradores não falam mais a língua indígena. Na Terra Indígena Geralda/Toco
Preto, dos Kokuiregatejê, antigamente registrada como terra dos Guajajara, só
morava um único Guajajara em 2000.
A pesca é
feita com anzol e linha ou tarrafa, antes faziam anzol com ferro batido, hoje o
compram e, no passado mais distante pescavam com arco e flecha. A caça é
exercida por homens, individualmente ou em grupos, nos caminhos entre uma
aldeia e outra quando são distantes ou nos locais de maior incidência de
animais, onde por vezes fazem casas temporárias: Ritio, Cabeça de Boi
("N" da terra indígena), Barro Branco (centro), Chapada, região da cachoeira
do Morcego, do riacho Piranhas, jusante do riacho Enjeitado ("S" da
terra indígena). Ao "S" e ao "N" há conflitos entre
não-índios e índios por conta destes exercerem as atividades de caça além da
parte da TI. Bacurizinho demarcada em 1979.
Os locais
de habitação permanente são as aldeias, e nelas são construídas casas de
estrutura de madeira, com barro, cobertas com palha (de buriti, principalmente,
por vezes usam madeiras - os cavacos - para cobrir em vez da palha) e chão de
terra aplainada, não raro, gerações se sucedem na mesma casa. Dada a escassez
da palha na terra indígena, algumas casas hoje são cobertas com telhas
conseguidas por meio de projetos da associação indígena. As habitações
temporárias são precárias, construídas apenas para servir de abrigo quando os
Tenetehara-Guajajaras se distanciam das aldeias para as atividades de caça e de
coleta.
As
aldeias funcionam como núcleos concêntricos: os Tenetehara-Guajajaras moram
nelas, implantam suas roças nas proximidades e exercem longe das aldeias outras
atividades (caça, coleta de frutos silvestres, penas, mel e palhas) com as
finalidades de subsistência e uso ritual, ao mesmo tempo em que levam consigo
os mais jovens, oportunidade em que repassam o conhecimento a cerca do mundo em
que vivem, classificando ao seu modo espécies e relacionando-as com as épocas
do ano.