quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ruralistas fazem pressão contra terras indígenas


Câmara debateu demarcação em áreas dos awá-guajá no Maranhão Em audiência pública dominada por ruralistas e outros parlamentares contrários à demarcação de terras indígenas, a Funai sofreu duros ataques ontem na Comissão da Amazônia da Câmara. Demarcações de áreas no Maranhão, sobretudo na terra dos awá-guajá, foram o tema. Estavam presentes cerca de 350 pequenos produtores rurais da região, contrários à Funai e que aplaudiam os discursos inflamados dos deputados.

Reportagem do GLOBO mostrou, há duas semanas, o drama dessa etnia, que foi recém-contatada e ainda vive de caça na selva amazônica no Maranhão. O coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contatos da Funai, Carlos Travassos, que representou o Ministério da Justiça na audiência, foi alvo de todo tipo de ataque, como o de Francisco Escórcio (PMDB-MA). Exaltado, batendo a mão na mesa e dedo em riste para Travassos, Escórcio disse: - O senhor é um inócuo. É de quinto escalão. Vou me ausentar dessa reunião.

Quando teve a palavra, Travassos rebateu. - Abstenho-me de responder às palavras do deputado Escórcio. Pela própria elegância do deputado - disse o coordenador da Funai. Na mesa que conduziu os trabalhos, a maioria era de contrários às demarcações. Prefeitos, lideranças comerciais e os produtores rurais das cidades cortadas pelas terras indígenas do Maranhão dominaram a sessão. As dezenas de pequenos produtores vestiam uma camisa amarela com a frase: "Diga não à demarcação da suposta terra indígena Awá-Guajá".

Os manifestantes viajaram três dias de ônibus até Brasília e são das cidades de Zé Doca e São João do Caru. Em 1992, a terra dos awá foi declarada de posse permanente desse grupo de índios, sendo homologada por decreto do presidente Lula em 2005. Foram movidas ações judiciais por proprietários rurais, todas derrotadas. O prazo para desintrusão da área a retirada dos não índios já venceu.

O governo pode enviar a qualquer momento à região forças policiais para que a terra seja entregue aos cerca de 400 awá-guajá que vivem lá. Travassos defendeu a demarcação da terra awá-guajá e afirmou esperar que o clima de provocação da audiência não chegue ao estado: - Discursos vazios, sem dados concretos, não resolvem. A decisão judicial já foi proferida. A terra pertence ao povo awá-guajá, que, infelizmente, não está aqui para se expressar. As pessoas que aqui estão pequenos produtores não podem ser usadas como manobra.


Fonte; Evandro Éboli - O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário