Cerca de
150 indígenas de diversos povos do país, além de apoiadores, farão na manhã
desta terça-feira, 13 de agosto, manifestação na Esplanada dos Ministérios. A
concentração ocorrerá às 8h30, em frente à Catedral de Brasília (DF), com
passeata até a Praça dos Três Poderes. O objetivo do ato é protestar contra o
PLP 227 e a PEC 215, com tramitações na Câmara Federal, além da Portaria 303 e
a alteração no procedimento de demarcação de terras, medidas do Executivo. Os
povos reivindicarão ainda a retomada das demarcações e homologações de terras
paralisadas pelo governo federal.
O
protesto é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib).
Do total de indígenas presentes, 100 são de povos da Bahia, entre eles os
Pataxó e Tupinambá, do extremo sul, e Tuxá, do sertão. Outros povos presentes
são: Kaingang (RS), Guarani Ñandeva (RS), Guarani e Kaiowá (MS), Terena (MS),
Huni Kuĩ (AC), Guajajara (MA), Fulni-ô (PE) e Tupinikim (ES). Outras comitivas
devem chegar até amanhã, mas ainda não há confirmação.
Conforme
as lideranças indígenas, a mobilização é fruto da atual conjuntura. Na Câmara
Federal, a bancada ruralista pressiona para a tramitação de duas propostas
consideradas negativas para a efetivação do direito a posse das terras
tradicionais pelos povos indígenas, afetando também quilombolas e a criação de
áreas de proteção ambiental. “São projetos que alteram a Constituição.
Percebemos que o ataque visa a desconstrução definitiva de direitos. Acontece
que isso é completamente ilegal”, destaca Paulino Montejo, assessor da
Apib.
A
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 visa transferir do Executivo para o
Legislativo a demarcação e homologação de terras tradicionais, tanto para
indígenas quanto para quilombolas, assim como a criação de áreas de proteção.
“Basta ver quem tem a maior bancada na Câmara: os ruralistas. São eles que
estão propondo isso. O que hoje se trata de um processo técnico, esses
deputados querem que se torne um processo político”, critica Sônia Guajajara,
da Apib.
Já o
Projeto de Lei Complementar 227 pretende criar lei complementar ao artigo 231
da Constituição Federal “Dos Índios” apontando exceções ao direito de uso
exclusivo dos indígenas das terras tradicionais, em caso de relevante interesse
público da União. Dentre as tais exceções está a exploração dos territórios
indígenas pela rede do agronegócio, empresas de mineração, além da construção
de empreendimentos ligados aos interesses das esferas de governo federal,
estadual e municipal.
“São ao
menos duas afrontas: a primeira é contra a Convenção 169 da OIT, que exige a
consulta prévia aos povos tradicionais afetados diretamente por medidas
legislativas. A segunda é contra a própria Constituição, pois ela é clara
quando afirma que a exceção ao usufruto exclusivo é da União, não de
municípios, estados ou particulares”, analisa Adelar Cupsinski, assessor
jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A opinião é defendida
também por juristas, como Dalmo Dallari.
Executivo:
um palácio anti-indígena
Se no
Legislativo a investida contra o direito dos povos indígenas parte da maior
bancada, a ruralista, no Executivo os dois principais ataques partem
diretamente do Palácio do Planalto. A Portaria 303, da Advocacia-Geral da União
(AGU), suspensa até o julgamento das condicionantes da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol (RR) pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), permite a
construção de grandes empreendimentos em terras indígenas sem consulta prévia
aos povos afetados, entre outras medidas. “Depois a SGPR (Secretaria Geral da
Presidência da República) quer regulamentar a Convenção 169, sendo que permite
a existência de uma portaria que a contradiz? É inaceitável”, afirma Montejo.
Ainda
dentro do Palácio do Planalto, no Ministério da Casa Civil, a ministra Gleisi
Hoffmann emprega parentes na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), presidida pela senadora ruralista Kátia Abreu (PSD/TO), de acordo com
reportagem da edição do último domingo do jornal Valor Econômico, e suspende
demarcações de terras indígenas país afora com base em relatórios do Embrapa,
que a própria empresa nega ter feito. E não para por aí.
Nos
bastidores do Ministério da Justiça, grupo compõe proposta de alteração no
procedimento de demarcação de terras indígenas, alterado pelo governo Fernando
Henrique Cardoso com o Decreto 1775/96, já bastante contestado pelos indígenas.
O ministro José Eduardo Cardozo e a presidente Dilma Rousseff já anunciaram que
o governo realizará tal mudança, mesmo com a discordância das organizações
indígenas. A falta de demarcações também é
“É um
governo que demonstra servir aos interesses do latifúndio e do agronegócio. Todas
as sinalizações são nesse sentido. A homologação e retirada dos invasores de
Raposa Serra do Sol e Marãiwatsédé, que o governo se gaba de ter feito, foram
determinações judiciais, do STF. Não existe vontade política em garantir os
direitos indígenas. Nesse aspecto, os últimos 10 anos foram uma tragédia tanto
quanto o que tinha antes”, destaca Montejo. O assessor da Apib justifica no
número de demarcações e homologações.
Enquanto
Fernando Henrique Cardoso publicou 118 portarias declaratórias e 145 homologações,
no mesmo período Luiz Inácio Lula da Silva demarcou 70 terras e homologou 80.
Já o governo Dilma indica que não chegará perto nem de seu antecessor: até
agora foram 11 portarias e 11 homologações. Os dados são do Banco de Terras do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Ou seja, em pouco mais de dez anos de
PT no governo, 91 homologações e 81 demarcações. Em dois anos, Fernando Collor
(1990-1992) homologou 112 e demarcou 58 terras.
Fonte; Organizada
pela Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib)
Contatos
para outras informações ou entrevistas: Patrícia Bonilha jornalista (61)
9979-7059 ou Renato Santana jornalista (61) 9979-6912.
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