Em reação às primeiras imagens já produzidas e
divulgadas dos índios Kawahiva na região do município mato-grossense de
Colniza, localizado a 1.065 km da capital Cuiabá, o presidente da Câmara
municipal da cidade, vereador Elpido da Silva Meira (PR), declarou em
entrevista ao vivo à TV Centro América nesta quarta-feira (14) que não há
populações indígenas nas imediações. Para o parlamentar, os índios foram
“implantados” na área.
Divulgadas nesta terça-feira, imagens produzidas
pela Fundação Nacional do Índio (Funai) mostram um grupo de integrantes da
tribo dos Kawahiva do Rio Pardo - da etnia Tupi Kawahibi - deslocando-se de uma
aldeia para outra. Segundo a fundação, eles não passam de 300 pessoas (dados de
2006) e se encontram isolados numa área de 411,8 mil hectares perto da divisa
de Mato Grosso com o estado do Pará.
“Eles falam que tem índio isolado dentro de
Colniza. Na verdade, isso aqui nunca foi aparecido. Tudo que é feito é feito
nas escuras, sem conhecimento do povo, sem conhecimento do Poder Executivo, do
Poder Legislativo. Então, é feito assim, nas escuras, praticamente uma
implantação de índio dentro do nosso município de Colniza”, afirmou o vereador,
sugerindo que interesses no potencial de exploração mineral ou madeireiro
estariam por trás da demarcação das terras.
“Quem disse que é Colniza?”, questionou o
parlamentar a respeito do local das filmagens, para depois também questionar se
os índios registrados viveriam especificamente na região de Colniza. “É índio
dentro de Colniza que tá vindo de outras bandas”.
Isolados
Referências sobre os Kawahiva no noroeste de Mato
Grosso existem desde 1750. Desde então, diz-se que tiveram contato com eles
desbravadores como Marechal Cândido Rondon e o antropólogo francês Claude
Lévi-Strauss. Sua área foi delimitada em portaria da Funai publicada pelo
Diário Oficial da União (DOU) somente em 2007, medida que automaticamente
restringiu o direito de locomoção de não-índios pelo local.
Entretanto, àquela altura os poucos representantes
da etnia na região já haviam sofrido consequências da exploração econômica
decorrente da ocupação do Centro-Oeste brasileiro e sua presença já havia
acirrado os ânimos dos produtores no município de Colniza. A área delimitada
pela Funai foi objeto de disputas judiciais e hoje o local onde os Kawahiva
foram avistados pela Funai está logo ao lado da área de uma fazenda.
A última decisão da Justiça Federal a respeito da
demarcação é de julho deste ano e determina a continuidade do processo de
homologação da terra indígena. No processo, o Ministério Público Federal (MPF)
relatou que, no local, “estavam ocorrendo invasões e que várias famílias de
migrantes estavam reivindicando assentamento, além de estar ocorrendo a
abertura de estradas no entorno da área, fatos que podem acarretar grande
prejuízo e perigo de vida aos índios isolados”.
Funai
De acordo com o coordenador de índios isolados da
Funai, Elias dos Santos Bigio, afirmações como as do presidente da Câmara
de Colniza são recorrentes “desculpas” dadas por aqueles que se opõem à criação
de reservas indígenas em áreas de ocupação tradicional reconhecida na região
amazônica.
Ele assegurou que a ocupação dos Kawahiva foi
atestada por dois antropólogos em distintas expedições de perícia, embora com o
cuidado de não fazer contato com os índios. A tribo é acompanhada por
sertanistas vigilantes há mais de uma década.
“Este grupo está adotando estratégias de
sobrevivência, de viver escondido na floresta. São povos que, pela experiência
traumática que tiveram com a sociedade regional (não indígena), estão vivendo
escondidos porque foram mortos”, explicou o coordenador, lembrando que a
Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) podem
ser acionados para realizar a proteção desta comunidade isolada em risco de
desaparecimento.
Fonte: G1-MT
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