quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Após cenas de tribo isolada, vereador nega que haja índios em cidade de MT



Em reação às primeiras imagens já produzidas e divulgadas dos índios Kawahiva na região do município mato-grossense de Colniza, localizado a 1.065 km da capital Cuiabá, o presidente da Câmara municipal da cidade, vereador Elpido da Silva Meira (PR), declarou em entrevista ao vivo à TV Centro América nesta quarta-feira (14) que não há populações indígenas nas imediações. Para o parlamentar, os índios foram “implantados” na área.

Divulgadas nesta terça-feira, imagens produzidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) mostram um grupo de integrantes da tribo dos Kawahiva do Rio Pardo - da etnia Tupi Kawahibi - deslocando-se de uma aldeia para outra. Segundo a fundação, eles não passam de 300 pessoas (dados de 2006) e se encontram isolados numa área de 411,8 mil hectares perto da divisa de Mato Grosso com o estado do Pará.

“Eles falam que tem índio isolado dentro de Colniza. Na verdade, isso aqui nunca foi aparecido. Tudo que é feito é feito nas escuras, sem conhecimento do povo, sem conhecimento do Poder Executivo, do Poder Legislativo. Então, é feito assim, nas escuras, praticamente uma implantação de índio dentro do nosso município de Colniza”, afirmou o vereador, sugerindo que interesses no potencial de exploração mineral ou madeireiro estariam por trás da demarcação das terras.

“Quem disse que é Colniza?”, questionou o parlamentar a respeito do local das filmagens, para depois também questionar se os índios registrados viveriam especificamente na região de Colniza. “É índio dentro de Colniza que tá vindo de outras bandas”.

Isolados

Referências sobre os Kawahiva no noroeste de Mato Grosso existem desde 1750. Desde então, diz-se que tiveram contato com eles desbravadores como Marechal Cândido Rondon e o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. Sua área foi delimitada em portaria da Funai publicada pelo Diário Oficial da União (DOU) somente em 2007, medida que automaticamente restringiu o direito de locomoção de não-índios pelo local.

Entretanto, àquela altura os poucos representantes da etnia na região já haviam sofrido consequências da exploração econômica decorrente da ocupação do Centro-Oeste brasileiro e sua presença já havia acirrado os ânimos dos produtores no município de Colniza. A área delimitada pela Funai foi objeto de disputas judiciais e hoje o local onde os Kawahiva foram avistados pela Funai está logo ao lado da área de uma fazenda.

A última decisão da Justiça Federal a respeito da demarcação é de julho deste ano e determina a continuidade do processo de homologação da terra indígena. No processo, o Ministério Público Federal (MPF) relatou que, no local, “estavam ocorrendo invasões e que várias famílias de migrantes estavam reivindicando assentamento, além de estar ocorrendo a abertura de estradas no entorno da área, fatos que podem acarretar grande prejuízo e perigo de vida aos índios isolados”.

Funai

De acordo com o coordenador de índios isolados da Funai, Elias dos Santos Bigio, afirmações como  as do presidente da Câmara de Colniza são recorrentes “desculpas” dadas por aqueles que se opõem à criação de reservas indígenas em áreas de ocupação tradicional reconhecida na região amazônica.

Ele assegurou que a ocupação dos Kawahiva foi atestada por dois antropólogos em distintas expedições de perícia, embora com o cuidado de não fazer contato com os índios. A tribo é acompanhada por sertanistas vigilantes há mais de uma década.

“Este grupo está adotando estratégias de sobrevivência, de viver escondido na floresta. São povos que, pela experiência traumática que tiveram com a sociedade regional (não indígena), estão vivendo escondidos porque foram mortos”, explicou o coordenador, lembrando que a Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) podem ser acionados para realizar a proteção desta comunidade isolada em risco de desaparecimento.

Fonte: G1-MT

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