segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Médicos cubanos temem problemas com a língua indígena


Bernardo Madrazo, um médico cubano que trabalhou na África, Guatemala e Venezuela, e Ania Ricardo, outra cubana que passou três anos em bairros pobres e violentos de Caracas, capital da Venezuela, se preparam juntamente com dezenas de compatriotas para trabalhar nas aldeias indígenas mais distantes da Amazônia. Animados com a experiência, eles demonstram preocupação com o idioma. "A Amazônia será muito diferente do que fiz antes. Estou muito animado", explica Madrazo.

Procedente de Cienfuegos, Bernanrdo Madrazo tem 47 anos, 23 de experiência médica (dois na Guatemala, dois no Lesoto e quatro na Venezuela). Seu destino será o Vale do Javari, uma área de tribos isoladas na fronteira com o Peru. "O principal problema será a língua. Estudamos muito português, mas os indígenas não falam português, vamos ter que aprender suas línguas", explica Ania Ricardo, que agora irá para uma aldeia no rio Solimões, na Amazônia.

Junto com outros 40 cubanos que chegam ao Brasil com um contrato de três anos, Madrazo e Ricardo tiveram seus primeiros contatos com indígenas brasileiros na última sexta-feira, com um treinamento na Casa de Saúde Indígena, a 25 quilômetros de Brasília, um local que abriga pacientes submetidos a tratamentos e cirurgias complicados em todo o país.

O governo de Dilma Rousseff lançou o programa Mais Médicos para preencher 15 mil vagas nas regiões remotas e pobres do país. Serão 4 mil médicos cubanos e centenas de argentinos, venezuelanos, espanhois e portugueses.

Doença do espírito

"O governo está determinado a dar prioridade à saúde indígena e cobrir estas praças muitas vezes rejeitadas pelos médicos brasileiros porque são áreas muito remotas e que requerem uma habilidade para tratar com uma cultura e hábitos muito diferentes", explica Antonio Alves de Souza, secretário de Saúde Indígena do governo brasileiro.

"São culturas que consideram o pajé como um médico e acreditam que a doença é do espírito e não do corpo. Não pode chegar alguém com essa visão de que a ciência do homem branco domina o mundo", afirma.

A melhoria dos serviços de saúde pública foi uma das grandes reivindicações das manifestações que tomaram as ruas do Brasil em junho. Mas o programa também gerou controvérsia. Apesar de os médicos estrangeiros irem para as praças em que os brasileiros não vão, alguns deles foram recebidos nos aeroportos com vaias e declarações racistas.

A polêmica surgiu porque os cubanos recebem apenas parte dos R$10 mil reais que o Brasil paga, uma vez que o dinheiro é destinado ao governo de Havana. "Em Cuba, temos tudo garantido pelo Estado, eu não paguei um centavo para me formar, é nosso sistema, como também nos incutem a solidariedade de sair para exercer (a medicina) fora", declara Ania Ricardo.

Sétima economia do planeta, o Brasil tem uma taxa de 1,8 médico por 1.000 habitantes, menos que Argentina (3,2) ou Grã-Bretanha (2,7). "A saúde no país estava cada vez mais precária. Realmente precisamos destes médicos estrangeiros que talvez incentivem nossos médicos a trabalhar melhor e quererem ir a locais distantes", diz Kenia Gomes de Matos, enfermeira da Casa de Saúde Indígena.

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