Terminou
neste domingo (8) a primeira Formação para Jovens Indígenas do Tocantins,
promovida pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Araguaína, norte do
estado.
Durante nove dias, 34 representantes de seis diferentes povos
participaram de programação que incluiu discussão sobre territórios, saúde e
direitos indígenas. O objetivo, segundo Jucilene Gomes Correia, do Cimi, era
“despertar nos jovens o gosto, a paixão e o entusiasmo pelo papel de liderança,
para que assumam as lutas de seu território e de seu povo”.
Os
jovens pertenciam a povos do Tocantins Apinajé, do município de Tocantinópolis;
Avá-Canoeiro, de Formoso do Araguaia; Karajá-Xambioá, de Santa Fé do Araguaia;
Krahô, dos municípios de Goiatins e Itacajá; Xerente, de Tocantínia e ao povo
Tapuia, do município de Rubiataba, em Goiás. “As culturas são diferentes, mas
os problemas são iguais”, avalia Poliana Kêncaprêc, de 18 anos, da aldeia
Serrinha, do povo Krahô. “O problema maior que enfrentamos é a
assistência muito precária de saúde. Em todas as aldeias acontece isso”, afirma
Romario Srowasde Xerente, de 19 anos. “Foi bom saber da cultura, da realidade,
das lutas dos outros povos para formar uma organização. A força é maior e os
jovens se organizam para uns ajudarem os outros”, complementa.
Bem viver
Um
dos pontos de debate girou em torno da comparação entre o capitalismo e o bem
viver dos povos indígenas. “Eu estava na minha aldeia sem conhecer as leis e as
coisas que acontecem fora dela. Se falou do capitalismo e soube o que acontece
em volta do meu mundo”, diz Emilio Dias, de 28 anos, professor na aldeia
Mariazinha, na Terra Indígena Apinajé. “Nós, índios, preservamos a nossa terra,
não desmatamos, e isso é diferente do que faz o mundo dos brancos”, conclui.
Marcia
Haritxawaki, de 17 anos, do povo Karajá, complementa: “a gente vê a terra como
vida. O homem branco vê como mercadoria. E isso coloca a gente em risco, com o
desmatamento e a poluição dos nossos rios”.
Território
Entre
os participantes, os avá-canoeiro ainda não têm território definido no estado.
Parte vive de favor com o povo Javaé, na Ilha do Bananal. É o caso da família
de Davi da Silva, de 28 anos, que vê essa situação como uma ameaça. “Não
podemos fazer nossos rituais à vontade”, lamenta. Seu irmão, Diego, de 19 anos,
compara a realidade de seu povo à “história bíblica do povo judeu que foi para
o Egito e viveu escravizado. Me sinto assim. Não podemos manifestar nossos
costumes, ficamos acanhados e subordinados”.
Diego
considerou fundamental sua participação nesse encontro para avaliar os riscos
que correm com essa situação. “Pra mim tanto fazia ter terra ou não. Aqui
conheci a realidade e me espelho agora em dois grandes líderes que me fizeram
querer lutar: Chicão Xukuru e Raoni Kayapó. Agora, tenho vontade de lutar não
só pelo meu povo, mas pela causa indígena”.
*Texto
Carolina Motoki
Nenhum comentário:
Postar um comentário