Cerca de 25 pesquisadores foram retirados da terra
indígena Munduruku, pelos próprios indígenas, nesta sexta, 22 em
Jacareacanga, extremo oeste do Pará. Os técnicos coletavam amostras da fauna e
flora da região para os estudos ambientais e de viabilidade das usinas
hidrelétricas do rio Tapajós, que afetarão o território Munduruku.
Segundo os indígenas, os pesquisadores usavam
uniformes da empresa Concremat, que presta serviços para o Consórcio Grupo de
Estudos Tapajós, liderado pelas empresas Camargo Correia, GDF Suez, Eletrobras
e Eletronorte, entre outras.
"O que nós fizemos foi uma ação política, de
resistência. Nós soubemos que tinha pesquisadores na região, há pelo menos dois
meses... Fomos atrás deles e trouxemos para a cidade. Foi isso o que
aconteceu", explica Valdenir Munduruku, que participou da operação.
"Eles
estavam divididos em duas equipes, uma de pesca e uma de mata. Nós encontramos
a equipe de pesca próximo a aldeia Amanhanã. Trouxemos o chefe das equipes para
Jacareacanga, com outros dois, para que eles chamassem todos os pesquisadores
pra cidade", relata.
"Tudo correu bem. Eles [os pesquisadores] não
imaginavam... Conversamos com eles, foi tudo tranquilo. Agora estamos esperando
todos chegarem, e coordenador que vem de Itaituba. Não vamos deixar continuar
esse trabalho", diz Valdenir.
Segundo pronunciamento do porta-voz do cacique geral do povo Munduruku, Jairo Saw, "os pesquisadores já estão na quarta etapa de estudo, já na fase final e previsto para apresentarem o relatório final do EIA – RIMA no mês de novembro".
Em nota pública
lançada hoje, os Munduruku afirmaram que o governo já sabia que os indígenas
não permitiram a entrada de pesquisadores no território. "Nós vamos
liberar pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa
postura por parte do governo federal e dos empreendedores que querem construir
barragens", pontua o documento, que também exige a suspensão "de
todos os estudos e pesquisas relacionados às barragens nos rios Tapajós e Teles
Pires" por parte do governo federal.
Os indígenas temem uma ação violenta da Força
Nacional, que chegou hoje em Jacareacanga, em um avião da Força Aérea
Brasileira. "Esperamos que esses militares não tenham vindo para nos
atacar, mas sim para defender o nosso direito pela nossa terra, a lei e a
Constituição", argumenta a carta.
Leia a declaração dos Munduruku na íntegra:
Declaração
Munduruku: pesquisadores, não entrem nas nossas terras
Nós, Munduruku do rio
Tapajós, apreendemos um grupo de pesquisadores que estava ilegalmente em nossa
terra. Eles estavam coletando animais, plantas e amostras para a construção de
barragens nas nossas aldeias. Nós apreenderemos tudo o que foi coletado por
eles, todos os materiais, tudo o que foi retirado e anotado das terras
indígenas.
Nós deixamos claro para
o governo federal que não iríamos deixar entrar nenhum pesquisador nos nossos
territórios.
Nós vamos liberar
pacificamente este grupo, mas alertamos que não toleraremos mais essa postura
por parte do governo federal e dos empreendedores que querem construir
barragens.
Um avião búfalo do
Exército/FAB pousou hoje em Jacareacanga. Esperamos que esses militares não
tenham vindo para nos atacar, mas sim para defender o nosso direito pela nossa
terra, a lei e a Constituição. Porque quem está errado é o governo. Nós estamos
certos.
Exigimos que o governo
suspenda todos os estudos e pesquisas relacionados às barragens nos rios
Tapajós e Teles Pires. Nós sabemos que as pesquisas são o primeiro passo para
viabilizar a construção das hidrelétricas. Nós não vamos deixar as pesquisas e
estudos acontecerem. Se o governo não suspender, nós daremos um jeito.
Sugerimos aos pesquisadores que não entrem nas nossas terras.
Estão todos avisados.
RuySposati,
de Brasília (DF)
de Brasília (DF)
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